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sexta-feira, 6 de maio de 2011

JAPÃO: TRAGÉDIA E RECONSTRUÇÃO I

Iochihiko Kaneoya
ikaneoya@yahoo.com.br

Survivors of tsunami – Japan 2011 que encontram no litoral, depositando-as terra
adentro, às vezes, quilômetros longe da praia. Ao
se recolherem, levam para o mar mais do que trouxeram: casas, carros, pessoas, animais,
árvores, barcos e qualquer objeto sujeito à força das águas. Os japoneses dizem temer mais o
tsunami do que o terremoto.
A tragédia fez o Japão enterrar seus milhares de mortos às dezenas em valas comuns, assistidos
apenas pelos soldados do Exército e alguns familiares. País onde a cremação é a tradição –
processo insuficiente para solução em larga escala – foi também prejudicado pela falta de
energia elétrica.
“O Japão tem mais de cem milhões de habitantes e não houve até agora nenhum saque”
noticiaram a Bandeirantes, a Globo e a CNN. “Por aqui, veem-se vários homens do Exército no
socorro às vítimas, mas todos eles trabalham desarmados”, noticiou também a CNN em outro
dia. E continua a imprensa estrangeira: os supermercados ficaram de prateleiras vazias
vendendo tudo sem qualquer aumento; ao racionamento de compra de água decidido pelos
comerciantes, houve quem levasse menos do que o permitido, alegando que poderia fazer falta a
outro; no racionamento de gasolina, houve postos que encerraram as vendas a particulares e
destinaram o combustível restante para ambulâncias e veículos de resgate. Nada disso foi notícia
na TV local. A imprensa estrangeira parece não acreditar na aparente calma dos japoneses.
A TV japonesa NHK no entanto, informa com outro foco: noticia num dia, grupo de colegiais
que rumou no fim de semana em ônibus fretado para os locais afetados para ajudar na
Na tarde do dia 11 de março, exatamente às 14:46
h, 2:46 h para nós, brasileiros (horário de
Brasília), o Japão sofreu o mais forte terremoto na
sua história (8,9 graus de magnitude na escala
Richter), desde que se iniciaram os registros
sismológicos naquele país em fins do século XIX.
Ao terremoto – ocorrido em alto-mar, a nordeste
do arquipélago, 370 km de Tóquio – seguiram-se
ondas de tsunami – a terrível onda que chegou ao
continente com efeitos devastadores. Ao chegar,
trazem do mar embarcações, varrendo também o
arrumação das casas – preferencialmente de idosos – desobstruindo passagens, fazendo o
serviço de limpeza e arrumação mais pesados e num outro, crianças do primário levados pelos
professores para massagear os ombros dos idosos nos abrigos; banhos públicos que franquearam
a entrada para desabrigados; hotéis que disponibilizaram parte das vagas para socorro às
vítimas; atletas e artistas que recolhem fundos nas ruas.
A natureza não é apenas agressiva, mas cruel com os japoneses: o arquipélago se situa no
Círculo de Fogo do Pacífico onde ocorrem 80% dos terremotos, na confluência de quatro
placas tectônicas: da Plataforma do Pacífico, das Filipinas, da Euroasiática e da Norteamericana,
onde 54 vulcões estão ativos e sofrem 20% dos terremotos mais violentos do planeta.
É também rota de vendavais e grandes furacões vindos do sul e sudeste do Oceano Pacífico.
Essas constantes manifestações de agressividade da natureza, que parece não desejar a ocupação
do arquipélago pelo homem, parece ter incrustado na genética do povo japonês a natural ajuda
ao próximo como requisito para sobrevivência de sua gente.
Sem petróleo, ouro, manganês, diamante ou qualquer outra riqueza mineral e sem terras
agricultáveis suficientes para alimentar sua população – o arquipélago é apenas um amontoado
de mais de 3 mil ilhas, 70% ocupados por florestas montanhescas – o Japão tem apenas
japoneses: 128 milhões que se espremem nos restantes 30%.
Diz-se no Japão, diante de qualquer catástrofe que atinja o país ou a comunidade – “faça o que
você pode fazer”. “Do what you can do”. Sem a força enfática e auto-sugestiva do “yes, we can”
(sim, nós podemos), slogan de campanha do norte-americano Barack Obama, o japonês, em
meio à sua simples praticidade deseja apenas devolver à nação um país reconstruído. E todos
trabalham para isso.
País que vivia numa estrutura feudal há pouco mais de cem anos, isolado do
mundo, modernizou-se rapidamente e adequou suas instituições integrando-se ao mundo
moderno. Na última grande catástrofe, quando viu seu país – já depauperado pela Segunda
Guerra – ser bombardeado por duas bombas atômicas, a nação se reergueu “fazendo o que cada
um podia fazer pelo seu país” e, ajudado por outros países, em menos de 30 anos era a segunda
potência econômica do mundo.
O episódio de 11 de março novamente exigirá desse povo, força, determinação e grande espírito
de sacrifício. Como dizem os japoneses: “a situação é excepcional, por isso, exigirá também
esforço excepcional”. E na visão de um observador brasileiro: “a cultura desse povo
reconstruirá o país”.
Uma vez mais com o apoio de vários países, aí incluída a grande força de trabalho de mais de
300 mil brasileiros que lá residem, nós, os brasileiros daqui, acreditamos e desejamos
profundamente, que o Japão breve se reerga dos escombros.
Não apenas “Gambare, Nippon” (força, Japão), mas
Minna gambarou! (esforcemo-nos todos).

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